A influência do Evangelho Portugal
A presença sociocultural de protestantes e evangélicos
Está por realizar um estudo rigoroso e com algum
detalhe sobre o papel do protestantismo e do evangelicalismo em
Portugal,
O obscurantismo, a ignorância do texto bíblico,
das bases doutrinárias do ensino de Jesus Cristo, dos princípios e dos valores
que são inerentes ao evangelho, marca a cultura portuguesa. A Reforma que
influenciou decididamente o norte da Europa, passou ao lado de Portugal. Existem
ainda regiões deste Portugal que se encontram reféns da ignorância acerca do que
a Palavra de Deus nos diz e como ela é tão distinta da religiosidade popular e
do nominalismo cristão.
Servem-nos aqui de referência emblemática o papel
de João Ferreira de Almeida (1628-1691) e da tradução que empreendeu da Bíblia
em português e a acção missionária de Robert Reid Kalley (1809-1888) na Madeira,
e a perseguição religiosa feroz que provocou obrigando à diáspora de centenas de
madeirenses.
A influência espiritual e cultural do trabalho
empreendido por João Ferreira de Almeida na linha do que acontecia em muitos
países da Europa em virtude da Reforma, não cabe no que uma investigação
sociológica e estatística podem conter. O Pr. Manuel Pedro Cardoso, no livro
"Deus, o Homem e a Bíblia" editado pela Sociedade Bíblica de Portugal, escreve
tendo como título "Um Emigrante Bem Sucedido":
"Emigrou, criança ainda, para a zona onde hoje
existe a Indonésia e ali, em 1642, fez a sua adesão à Igreja Reformada (o mesmo
que Presbiteriana) Holandesa, tendo apenas 14 anos de idade. Parece idade
insuficiente para decisão tão importante como a de ab-jurar da confissão
católico-romana em que fora educado, mas não esqueçamos que nesses tempos
difíceis chegava-se mais cedo à maturidade. Convertido, tornou-se um crente
convicto, estudou teologia e, depois de passar pelas várias fases do serviço na
Igreja, foi ordenado ao ministério pastoral."
E mais adiante sobre a tradução da Bíblia pela
primeira vez colocada à disposição do povo na sua língua refere: "Em princípio,
esta tradução, pedida pela sua Igreja, não se destinava aos portugueses que
ha-bitavam em solo pátrio, mas aos naturais daquelas áreas que usavam a nossa
língua como veículo de comunicação entre eles. Mas em 1809, a Sociedade Bíblica
em Londres começou a editar a Bíblia de João Ferreira de Almeida tendo em vista
tendo em vista o povo português e brasileiro.
A
medida que o protestantismo veio a introduzir-se nestes
países e nas então colônias esta versão foi de extrema utilidade. Porque, embora
depois de Almeida tenha surgido, nos tempos do Marquês de Pombal, a versão do
Padre Pereira de Figueiredo, era a "versão protestante" a que mais se adequava à
evangelização do povo. Porque enquanto Pereira áe Figueiredo, que traduzira a
sua Bíblia a partir da Vul-gata, usava um português de literato, o Pastor
preferira a língua do povo, o português corrente desses dias, o que tornava a
sua versão, natmahnente. muito mais
acessível. E além disso era mais fiel, porque o Pastor vertera
do hebraico e do grego, as línguas originais." (pp. 37-39)
É extraordinário como Deus contorna as fronteiras fechadas de
um país às mãos da ignorância e do obscurantismo espiritual, e usa emigrantes e
imigrantes, para introduzir nesta nação que Ele também muito ama, a revelação do
Seu amor, da Sua graça e misericórdia, da fé em Jesus Cristo - único Senhor e
Salvador, sem quaisquer outras mediações e rejeitando qualquer apelo ao comércio
religioso. É extraordinário também como Deus age no tempo, séculos antes,
preparando os corações e as mentes para o que virá depois e o que estamos vendo
e havemos de ver ainda. Quando hoje temos programas evangélicos na televisão e
na rádio, temos a página impressa e a internet como canais da mensagem de Jesus
Cristo, temos que ter presente que isso é um desdobramento de um plano divino
que na Sua provisão tudo nos foi proporcionando. Fico também a pensar que no
frenesim e na pressa dos dias que vivemos, devemos continuar a confiar no Deus
que se move no tempo como quer. Pode até ser que a lentidão seja da nossa
responsabilidade, mas o nosso Deus não desistiu e não desiste desta terra, desta
língua e desta gente que amamos.
Sobre o Apóstolo da Madeira, citamos o livro precisamente com
este título da autoria de Michael P. Testa, no prefácio à edição portuguesa de
2005:
"Robert Reid Kalley, um cirurgião de Glasgow, foi o primeiro
médico missionário da Sociedade Missionária de Londres. O seu destino era a
China e o seu propósito era assegurar a continuidade da obra missionária que um
distinto compatriota, Robert Mor-rison (1782-1843), tinha interrompido devido à
sua morte. Durante os preparativos para a longa viagem à China, a doença súbita
da Senhora Kalley tornou aconselhável deixar o inverno rigoroso da Escócia e
procurar um mais rápido restabelecimento no clima moderado da portuguesa Ilha da
Madeira. Chegaram ao Funchal a 12 de Outubro de 1838, onde deviam permanecer
oito anos."
"Ali, no meio de um povo ilhéu extremamente fanático, o Dr.
Kalley fundou uma cadeia de escolas primárias e um pequeno hospital e empreendeu
o único movimento de evangelização em massa de toda a história do Protestantismo
em Portugal. As dimensões e a eficiência do seu trabalho missionário na Madeira
podem ser avaliadas pelas perseguições de 1844 e 1846. Fugidos às violências de
1846, mais de dois mil "hereges cal-vinistas" deixaram a sua ilha natal,
estabelecendo-se principalmente nas Antilhas e Illinois." (p.7)
O que aqui se verifica é transversal à história da implantação
do protestantismo e do evangelicalismo em Portugal, ou seja, existe uma
integração entre a dimensão do espírito na comunicação do Evangelho da
reconciliação do homem com Deus pela graça, mediante a fé, em Jesus Cristo, e a
acção social, cultural, econômica, dos cuidados de saúde, da educação, do apoio
à infância e à idade de ouro, da introdução em Portugal e da utilização de novas
tecnologias, etc.
A este propósito referimos ainda Diogo Casseis (1844-1923),
fundador da Igreja Metodista em Portugal, bem com da Escola de Torne (Gaia), que
dirigiu durante cinqüenta anos, como exemplo emblemático da luta do
protestantismo contra o analfabetismo. No livro de Fernando Peixoto sobre esta
insigne figura do protestantismo em Portugal, refere que numa notícia "d'A
Reforma, de 14 de Janeiro de 1887, lê-se que a Escola do Torne fora
inaugurada em 1872. De facto, foi neste ano que ela passou a contar com
instalações próprias, uma vez que até aí funcionara na própria capela, com a
precariedade e as limitações que uma tal situação implicava." (p. 29) E mais
adiante (p. 33), cita o próprio fundador: "Como Igreja viva, compete-nos
derramar a instrução por meio das Escolas, e pregar o Evangelho por meio da
imprensa, pela palavra falada e por meio de missões, conforme o mandamento do
Senhor: - Ide e ensinai o Evangelho a toda a criatura" (cit. in Cabral, 1978:
31). Nesta escola o meu avô, Pr. Armando Jaime Augusto Pinheiro (1911-1977),
terá estudado e tido um primeiro contacto com o Evangelho.
Sempre foi assim e sempre assim será até que a Igreja seja
arrebatada: cada igreja local, cada comunidade por pequena e insignificante que
seja aos olhos dos homens e dos meios de comunicação, é um canal de bênção, de
assistência, de desenvolvimento, de entreaju-da, de missionação, etc. As
Assembléias de Deus em Portugal, surgem na primeira década do século vinte (1913
- Tondela, 1924 - Portimão), precisamente com esta matriz bíblica e desde cedo
desenvolvem um trabalho social espelhado do Lar de Almeirim e no Lar de Betânia,
mais tarde ainda no aparecimento do Desafio Jovem e, hoje em dia, em inúmeras
outras instituições de apoio multifacetado.
SRP
Fonte : Novas de Alegria
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